Administração para a rentabilidade ou para a longevidade é uma pergunta que pode colocar empreendedores em dilemas. Qualquer executivo de uma grande companhia provavelmente responderia: 'obviamente, a rentabilidade'. A resposta é cada vez mais comum, uma vez que assim estamos sendo educados, tanto nas empresas como nas faculdades. Mas o sucesso é representado por crescimento, lucro ou valor das ações? |
A Shell realizou há alguns anos uma pesquisa com algumas das mais antigas organizações do mundo e descobriu que elas possuem pouca coisa em comum, nada de cultura, nem geografia, idioma ou país, mas 4 características estavam presentes em todas:
1. São conservadoras em termos financeiros
Sem grandes arroubos de investimentos, pouca ou nenhuma dependência de bancos.
2. São sensíveis ao mundo à sua volta
Elas veem e antecipam as mudanças que impactarão o seu negócio e têm melhor capacidade de adaptação às mudanças externas.
3. Possuem senso de origem e de identidade
Tanto líderes como pessoas se identificam entre si e com a cultura organizacional.
4. Promovem a descentralização
Eles dão liberdade às pessoas para experimentar, assumir responsabilidades e tomar decisões.
Estas empresas nunca colocaram o lucro como principal meta, mas, mesmo assim, entre 1920 e 1980, foram 15 vezes mais lucrativas do que a média das empresas listadas na Bolsa de NY, que seguem as tradicionais lições aprendidas nos MBAs. Ou seja, longevidade e rentabilidade não são características mutuamente exclusivas, logo, não é preciso abrir mão de uma para conseguir a outra.
Para o ex-executivo da Shell, Arie De Geus, a economia é determinada por 3 elementos apenas: capital, recursos e mão de obra. Hoje, capital não tem mais o mesmo efeito na economia, pois seu acesso está muito mais fácil. Recursos como equipamentos, espaço, matéria prima e tecnologia também não são mais tão relevantes, porque se transformaram em commodities. Dessa forma, restam apenas as pessoas, um tipo de ativo que não tem como constar nos balanços contábeis das empresas.
Ironicamente, é justamente este valioso ativo que acabamos comprometendo com medidas drásticas, como o corte de custos em momentos de fragilidade financeira. São ações que trazem resultados em curto prazo. O problema é que medidas como estas acabam minando a capacidade de sobrevivência em longo prazo, comprometendo a expectativa de vida da empresa, pois reduz dois fatores primordiais para as relações entre pessoas e empresas: confiança e lealdade.
Podemos concluir que o segredo da perenidade está no desenvolvimento de valores mais profundos do que os demonstrados nas planilhas contábeis e passa pelo aprendizado e desenvolvimento pessoal, relacionamento, honestidade e transparência, comprometimento com o indivíduo e com a comunidade, reconhecimento da identidade e da visão e, acima de tudo, pelo jogo em equipe. Enquanto o empreendedor tiver as rédeas de sua empresa, o meu conselho é privilegiar o crescimento em detrimento da rentabilidade, valorizar as pessoas mesmo em momentos de crises.
Marcos Hashimoto é Professor do Mestrado Profissional em Administração de Empresas da Faculdade Campo Limpo Paulista e da Fundação Instituto de Administração (FIA), Consultor e Palestrante, doutor em Administração de Empresas pela EAESP/FGV (Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas), autor do livro Lições de Empreendedorismo e do software SP Plan de planos de negócios. Seu site pessoal é www.marcoshashimoto.com
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