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Virgílio Viana, superintendente geral da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), que já foi docente na Universidade de São Paulo (USP) e secretário no estado do Amazonas, sempre esteve ligado às questões do meio ambiente. Para ele, a sociedade como um todo, incluindo o setor privado, ainda não está suficientemente consciente da gravidade do problema ambiental que temos pela frente.
Durante o II Fórum da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-Brasil) de Sustentabilidade, realizado em São Paulo, Viana falou sobre o tema e a importância de melhores escolhas por parte das empresas e de todos os outros agentes sociais. “Nós estamos lidando com uma crise planetária que está sendo tratada como se fosse um detalhe. Uma crise seríssima, que é muito mais grave do que a maioria das pessoas se dão conta. E isso não implica em pequenas mudanças, mas em uma metamorfose dos modos de produção e dos padrões de consumo de todos nós”, comenta o superintendente da FAS.
Segundo Viana, o problema não envolve somente a questão do aquecimento global, mas do fim dos recursos disponíveis como um todo. “Esse cenário implica, para as empresas, em um novo posicionamento, não apenas porque elas têm que evitar a imagem negativa de ser parte dessa tragédia, mas para ter a possibilidade de serem protagonistas da mudança e também criar novas oportunidades de negócios”, aconselha.
Nos anos de 2014 e 2015, a cidade de São Paulo experimentou com a crise hídrica uma pequena amostra da catástrofe ambiental, que atingiu a sociedade como um todo, incluindo o setor empresarial e sua linha de produção. Segundo Viana, apesar de os eventos climáticos extremos não serem mais novidade, eles estão se tornando cada vez mais frequentes e extremos, o que não é um bom sinal.
O PAPEL DA AMAZÔNIA
“O Brasil não conhece a Amazônia. Nós precisamos ‘amazonizar’ o País”, brinca Viana, lembrando a importância da região para a manutenção do clima mundial e dos recursos florestais e hídricos disponíveis. “Por trás de cada RH, de cada vice-presidente, existem pessoas. É muito importante que essas pessoas sejam contaminadas com o vírus da Amazônia e com o vírus da inquietude de fazer transformações no planeta”, opina.
O especialista da FAS explica que a Amazônia funciona como um sistema de “bomba d’água”, garantindo a circulação da umidade na atmosfera e, consequentemente, as chuvas. Para ele, esse papel desempenhado pela floresta tem relação direta com os negócios e a vida das pessoas. “Ele é essencial por conta da energia elétrica, já que precisamos dos rios e das chuvas. Por conta da agricultura, já que o nosso agronegócio é em grande parte irrigado, e do abastecimento das grandes cidades. Então, cuidar da Amazônia é extremamente importante”, conta Viana.
Segundo Virgílio, é preciso ter coerência nas escolhas que fazemos e olhar a cadeia de valor que chega à nossa casa e à nossa empresa. Ao comer um bife, por exemplo, muito possivelmente, ele é um dos produtos advindos da degradação da floresta e nós estamos, sem saber, fazendo parte desse processo. “Quantos escravos trabalham para você? Muitos, pois os celulares têm alguns metais preciosos que são produzidos em minas da República Democrática do Congo e que são mantidos por soldados jovens, com crianças escravizadas”, exemplifica.
OS OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DE SUSTENTÁVEL
Nesse cenário de incertezas, Viana chama a atenção para a importância dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2015.
“Eu acredito que todas as empresas deviam se reportar a eles, e não só empresas, mas todas as organizações da sociedade civil, pois eles representam talvez o marco mais importante em sustentabilidade. A ONU não havia feito nenhuma medida tão participativa como esses ODS. Eles são essenciais e vão de temas estritamente sociais, como pobreza, fome, economias, padrões de consumo mais sustentável, até assuntos mais ligados à natureza, como florestas e oceanos. Eu não tenho dúvida que eles serão os referenciais mais importantes dos próximos anos”, comenta Viana.
Para o superintendente, os processos que envolvem preservação e práticas sustentáveis precisam de investimentos sociais do setor privado. Além disso, é preciso criar mais oportunidade de engajamento nas empresas, mostrando as causas importantes e fazendo isso de forma eficiente.