'Você são loucos! Vão se enfiar num mercado desses que só tem gente grande como a Suzano e a International Paper? Estão rasgando dinheiro!' Frases como essas foram as mais ouvidas por Luiz Machado, ao dizer que iria fundar sua empresa GCE Papéis. 'Foram as coisas que eu mais ouvi. No entanto, a nossa perspectiva não era brigar com os grandes, mas sim oferecer uma proposta que eles não ofereciam', contou ele em entrevista ao Santander Negócios & Empresas.
A GCE Papéis é detentora da EcoQuality, primeira marca brasileira que comercializa papel sulfite feito a partir da fibra do bagaço da cana-de-açúcar no Brasil. No método tradicional de produção de folha sulfite, usa-se o eucalipto como matéria prima. Machado trabalhou 27 anos em uma das maiores companhias do ramo da América Latina. Ao desligar-se da empresa em 2004, enxergou uma possibilidade de inovação dentro do mercado em que já tinha experiência. 'Fui procurar algo que agregasse valor ao produto e à sociedade', disse. Após estudar durante dois anos, ele e o sócio Guilherme De Prá Neto descobriram que é comum em países como Argentina, Colômbia e China produzir papel a partir do bagaço de cana-de-açúcar.
Apesar de parecer ter sido fácil, o maior desafio dos empresários foi mostrar de uma forma clara para os consumidores que o produto era exatamente igual ao papel produzido a partir da celulose do eucalipto. 'As pessoas pensavam que era igual ao papel reciclável ou pardo e quebrar essa barreira foi muito difícil', falou ele ao pegar algumas folhas do papel produzido pela EcoQuality e mostrar que, realmente, não há grandes diferenças visíveis. 'Tivemos que mostrar pro consumidor que não é papel artesanal e roda normalmente em impressoras de alta velocidade, por exemplo.'
Por que o bagaço de cana?
Segundo dados da União Indústria da Cana de Açúcar (UNICA), a venda de energia extra produzida com bagaço de cana ainda está restrita a um terço das usinas em operação no Brasil. Portanto, dois terços são descartados. 'A vantagem do bagaço de cana no lugar do eucalipto é estar utilizando um produto que seria descartado ou incinerado para virar energia', explicou Machado. Segundo ele, para fazer 1 tonelada de papel (560 pacotes de folha A4), é necessário:
14 toneladas de eucalipto (21 árvores) = 4 toneladas de bagaço de cana
Hoje, o processo de produção é realizado por uma empresa na Colômbia: 'nós aprimoramos o processo junto com uma fábrica na Colômbia e hoje comercializamos o produto dessa empresa', falou Machado.
As dificuldades
Entre as dificuldades enfrentadas hoje pela GCE Papéis está a variação cambial: 'a alta do dólar impacta diretamente no nosso curso porque compramos o produto em dólar'. No entanto, segundo o empresário, as empresas nacionais de papel convencional utilizam muitos insumos e equipamentos importados, então, também há impacto no custo deles. 'Nosso nível de preço é sempre compatível com o preço do mercado, mas em condições normais de mercado, seria mais competitivo.'
Em 2011, a empresa enfrentou um problema de excesso de chuva na Colômbia, o que impossibilitou a coleta da cana-de-açúcar. Para evitar situações como essa, a companhia trabalha hoje com um monitoramento do estoque de bagaço de cana: 'estamos com a produção assegurada por 4 meses, afinal, toda empresa precisa de um pulmão.'
Modelo de negócios
Hoje, a matriz da GCE Papéis fica localizada em Santa Catarina e há duas filiais, uma em São Paulo e outra em Pernambuco. A empresa possui 22 funcionários diretos e mais de cem indiretos. Machado explica que o modelo de negócios da empresa inclui custos variáveis: 'o nosso único custo fixo é o quadro de funcionários'. Atualmente, as vendas da GCE Papéis estão focadas no mercado corporativo no Brasil, mas também para países europeus e para o México.
'Não vendemos papel, vendemos conceito. O papel é uma consequência'
A inovação foi um dos fatores que contribuiu para o sucesso da GCE Papéis. Para o fundador, a inovação deve permear qualquer organização o tempo todo, pois o que funciona hoje pode não funcionar amanhã. 'É preciso olhar pelo menos 5 anos à frente e buscar solução de continuidade a todo tempo para que não tenha o negócio interrompido.'
E a GCE Papéis continua inovando. 'Desenvolvemos um novo produto que é 100% bagaço de cana e 0% químico branqueador'. É um papel pardo para livros que, segundo ele, entrará no mercado em breve.
E para você, o que é inovação? A sua empresa pensa nisso?
Leia também:
» 10 recomendações para tirar uma ideia inovadora do papel com sucesso
» Por que atividades dinâmicas podem aumentar a inovação em uma empresa
Por que o bagaço de cana?
Segundo dados da União Indústria da Cana de Açúcar (UNICA), a venda de energia extra produzida com bagaço de cana ainda está restrita a um terço das usinas em operação no Brasil. Portanto, dois terços são descartados. 'A vantagem do bagaço de cana no lugar do eucalipto é estar utilizando um produto que seria descartado ou incinerado para virar energia', explicou Machado. Segundo ele, para fazer 1 tonelada de papel (560 pacotes de folha A4), é necessário:
14 toneladas de eucalipto (21 árvores) = 4 toneladas de bagaço de cana
Hoje, o processo de produção é realizado por uma empresa na Colômbia: 'nós aprimoramos o processo junto com uma fábrica na Colômbia e hoje comercializamos o produto dessa empresa', falou Machado.
As dificuldades
Entre as dificuldades enfrentadas hoje pela GCE Papéis está a variação cambial: 'a alta do dólar impacta diretamente no nosso curso porque compramos o produto em dólar'. No entanto, segundo o empresário, as empresas nacionais de papel convencional utilizam muitos insumos e equipamentos importados, então, também há impacto no custo deles. 'Nosso nível de preço é sempre compatível com o preço do mercado, mas em condições normais de mercado, seria mais competitivo.'
Em 2011, a empresa enfrentou um problema de excesso de chuva na Colômbia, o que impossibilitou a coleta da cana-de-açúcar. Para evitar situações como essa, a companhia trabalha hoje com um monitoramento do estoque de bagaço de cana: 'estamos com a produção assegurada por 4 meses, afinal, toda empresa precisa de um pulmão.'
Modelo de negócios
Hoje, a matriz da GCE Papéis fica localizada em Santa Catarina e há duas filiais, uma em São Paulo e outra em Pernambuco. A empresa possui 22 funcionários diretos e mais de cem indiretos. Machado explica que o modelo de negócios da empresa inclui custos variáveis: 'o nosso único custo fixo é o quadro de funcionários'. Atualmente, as vendas da GCE Papéis estão focadas no mercado corporativo no Brasil, mas também para países europeus e para o México.
'Não vendemos papel, vendemos conceito. O papel é uma consequência'
A inovação foi um dos fatores que contribuiu para o sucesso da GCE Papéis. Para o fundador, a inovação deve permear qualquer organização o tempo todo, pois o que funciona hoje pode não funcionar amanhã. 'É preciso olhar pelo menos 5 anos à frente e buscar solução de continuidade a todo tempo para que não tenha o negócio interrompido.'
E a GCE Papéis continua inovando. 'Desenvolvemos um novo produto que é 100% bagaço de cana e 0% químico branqueador'. É um papel pardo para livros que, segundo ele, entrará no mercado em breve.
E para você, o que é inovação? A sua empresa pensa nisso?
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