Em 2012, retomei minha consultoria e alguns projetos que não conseguia conduzir enquanto me dividia com a coordenação do Centro de Empreendedorismo no Insper. Era muito trabalho, incluindo aulas, consultorias, palestras e pesquisas. Uma vez, fui tomar um café com um dos conselheiros do Insper, de quem acabei me aproximando. Empreendedor de uma grande empresa no segmento de serviços automotivos, ele queria saber o que eu estava fazendo. |
Contei para ele algumas das minhas atividades e ele me interrompeu e perguntou de novo: 'Marcos, eu quero saber o que você está construindo!' Eu não sei o que ele não havia entendido, pois eu estava justamente contando os vários projetos que eu estava construindo. Depois, mudamos de assunto, mas eu não sabia se ele havia entendido ou se havia desistido.
Algum tempo depois, recebi um pedido para desenvolver conteúdo para um curso de empreendedorismo online. Era um trabalho chato, com elaboração de provas, testes, busca de referências, nada muito difícil, mas não me agregava em nada. No entanto, a remuneração era boa. Estava tentado a aceitar, quando subitamente entendi o que o executivo estava me perguntando. Ele não queria saber o que eu fazia, mas a que tipo de realização eu estava dedicando minha vida. Tudo começou a fazer sentido. Fiquei envergonhado por não ter entendido isso naquela conversa, mas a lição foi muito boa, pois, a partir daí, comecei a direcionar meu foco e passei a buscar ativamente oportunidades nas quais eu atuasse como protagonista e não mais como coadjuvante.
Empreendedores são protagonistas de suas vidas, não são levados pelos desígnios impostos por outros, não cumprem o roteiro que os outros escreveram. Eles escrevem seus próprios roteiros, interpretam e dirigem suas próprias vidas, exercem sua autonomia e tomam iniciativas para construir aquilo que acreditam.
Por outro lado, também não abandonamos nosso papel de coadjuvante. Assim como precisamos de pessoas que nos ajudem em nossos projetos, é inevitável que os ajudemos em seus projetos também, mas são ações periféricas e sempre com o propósito de construir laços que serão úteis para o nosso projeto principal. O importante é não nos perdermos em nossos propósitos a ponto de consumirmos tempo em troca de futilidades. Não que dinheiro seja fútil, claro, mas a partir do momento que conseguimos pagar nossas contas, o que resta? Continuar acumulando dinheiro para esquiar nas férias? Sim parece muito bom, mas talvez haja algo mais importante para você e para sua carreira, algo maior, algo grandioso, algo do qual valha a pena se dedicar e acordar sempre motivado. A pergunta: ganhar dinheiro é sua atividade como protagonista? É isso que faz um verdadeiro empreendedor?
Um colega meu disse que está insatisfeito com o trabalho, não vê significado em nada, só faz atividades chatas, burocráticas, rotineiras e sem nenhuma emoção. Quando pergunto por que ele continua fazendo aquilo, a resposta é pronta e imediata: 'porque eu dependo deste emprego, oras, tenho família para sustentar!' Então eu respondo que ele não precisa mudar de emprego, ele pode se dedicar a uma realização que seja importante tanto para ele quanto para o seu empregador. É isso que fazem intraempreendedores: além de cumprir a rotina do seu cargo, eles se dedicam a algum projeto paralelo do qual vão se orgulhar. Algo que lhes dê a oportunidade de ser protagonista e que compense o marasmo de seu papel coadjuvante obrigatório. Algo que o faça se levantar todos os dias com disposição e automotivação.
E você, ainda é coadjuvante do roteiro da vida dos outros ou já está atuando como protagonista de sua própria história?
Marcos Hashimoto é Professor do Mestrado Profissional em Administração de Empresas da Faculdade Campo Limpo Paulista e da Fundação Instituto de Administração (FIA), Consultor e Palestrante, doutor em Administração de Empresas pela EAESP/FGV (Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas), autor do livro Lições de Empreendedorismo e do software SP Plan de planos de negócios. Seu site pessoal é www.marcoshashimoto.com