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Quando se trata do desenvolvimento de lideranças mirando práticas mais sustentáveis em uma empresa, o RH tem um grande desafio para realizar essa tarefa. Esse foi o tema da palestra de Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), durante o II Fórum da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-Brasil) de Sustentabilidade, realizado em São Paulo.
“Quando falamos em sustentabilidade, isso quer dizer pensar nos pilares econômico, ambiental e social, sendo esse último sempre o mais problemático e o que mais estamos engatinhando, e sem dúvida o setor de RH pode alavancar esse processo”, conta a palestrante.
Em 1992, com a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, a Eco-92, e a criação do Protocolo de Kyoto, em 1997, surge o CEBDS, uma associação civil, sem fins lucrativos, que visa promover o desenvolvimento sustentável nas empresas que atuam no País, por meio de tecnologia, soluções empresariais e ações de transformação. “O desafio da sustentabilidade não pode ser feito com um setor só, apesar de o setor privado ter papel de protagonismo nesse processo”. Ao todo, o conselho conta 70 grandes empresas associadas.
“Eu trabalhei no protocolo de Kyoto, lá no início, e sou uma testemunha de que as coisas mudaram bastante (desde lá). Não só o termo desenvolvimento sustentável, que teve uma grande mudança, mas a criação do protocolo de Kyoto e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da ONU, alteraram a dinâmica dos negócios”, conta Marina.
Segundo a palestrante, essa nova dinâmica se deu pois, anteriormente, as empresas não tinham esse tipo de preocupação com a dependência dos recursos naturais, mas apenas com o impacto de seus processos, pelo qual eram cobradas. “Então, a percepção de impacto evoluiu com a nova ideia de que você depende daqueles recursos naturais para sobreviver. E, em uma terceira posição, que é a que estamos atualmente, não é só reconhecer a dependência, mas saber o impacto positivo que a empresa pode deixar no ambiente. Essa é uma evolução do papel social das empresas, que agora tem a percepção de que se não cuidarem para além de suas fronteiras, elas estarão indo contra seu próprio negócio e sua sobrevivência será muito menor”, conta a presidente do CEBDS.
No entanto, segundo Marina, isso não é uma tarefa simples. É preciso buscar medidores para avaliar o impacto ambiental, mas ainda não há uma ferramenta precisa para isso no mercado, que funcione, por exemplo, como um relatório financeiro, só que voltado para o capital social. “Se você não mede, você não consegue planejar (essas medidas), você não consegue incorporar esse processo. A sustentabilidade não é ser bom ou ruim, mas é evoluir nesse processo e criar medidas mais padronizadas”, explica.
Para auxiliar nesse sentido, o CEBDS criou o protocolo de capital natural e o protocolo de capital social. Eles pretendem unificar os principais atores desse processo e tornar o relatório de sustentabilidade algo fácil de entender e aplicável às empresas. “Nós também fizemos o Visão 2050, que é um quadro com nove vetores voltados para empresas globais e locais, para entender como é o mundo de 2050 que queremos e o Brasil de 2050 que queremos. Isso é interessante, pois você tem uma mudança muito grande de valores, e o RH tem parte importante nisso”.
Para a palestrante, essa mudança de valores, que inclui educar e formar novas lideranças, é essencial para antecipar problemas e fugir de possíveis crises nos negócios. “Qualquer crise financeira não se resolve se você não colocar a sustentabilidade e o retorno do capital ambiental que você tem nesse processo. Se você não contabilizar isso, você não resolve o processo e continuará tendo ciclos de crise”, comenta.
A NOVA FUNÇÃO SOCIAL DAS EMPRESAS
Depois da criação dos ODS e do acordo de Paris, em 2015, muitas empresas estão vinculando seus negócios aos avanços da ciência e tecnologias sustentáveis, sempre reportando isso para a sociedade. Isso cria uma nova função social do setor empresarial.
“Antes, você podia ter céticos e pessoas que não acreditavam na mudança no clima, mas, a partir de 2015, não há mais espaço para isso. Qualquer empresa pode ser responsabilizada e nenhuma delas pode dizer que, se teve alguma questão que envolvia mudança do clima, ela não tinha nenhum conhecimento sobre isso. Isso muda o paradigma e coloca todo mundo junto em uma ação global”, conta Marina.
A função social das empresas está sendo retomada cada vez mais e estão surgindo novos paradigmas. Surgiram as empresas B, que já nascem com práticas voltadas para a solução de questões sociais e ambientais, e muitas das empresas grandes estão buscando entrar por esse caminho.
“No entanto, esse não é um processo trivial. Uma das coisas que fizemos no CEBDS foi um curso com a Universidade de Cambridge para lideranças empresariais, com CEOs e vice-presidentes. Com isso, reparamos que o contexto do Brasil não é igual ao resto do mundo. No primeiro ano de curso, percebemos uma participação maior da liderança. No segundo ano, já tivemos na turma só pessoas de sustentabilidade. O pessoal de Cambridge não entendia o motivo disso acontecer no Brasil, já que no exterior diversas áreas da empresa são englobadas nesse processo. Isso é uma grande questão para o RH contemplar, já que o tema da sustentabilidade, muitas vezes, está sempre em um cantinho, lembrando as outras áreas, mas não necessariamente integrado na estratégia dos negócios”, conta a presidente, salientando a importância da formação dessas lideranças.