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Ronald Heifetz é o autor de alguns dos melhores livros sobre liderança corporativa e Diretor do Centro de Liderança Pública, em Harvard. Mas antes disso, Heifetz foi médico. Durante sua palestra na HSM Expo 2016, realizada em São Paulo, ele contou que vê muitas semelhanças na prática da liderança e nas funções de cirurgião.
Para ele, assim como na medicina, “a fonte mais comum de erro na resolução de problemas corporativos é o diagnóstico”. Em ambos os casos, é fácil confundir um problema adaptativo com um problema técnico.
Um problema técnico é aquele que pode ser resolvido com um ajuste, uma única operação. Ele é como uma gripe, ou seja, acontece com todo mundo. Uma falha que acontece em toda empresa é inconveniente, mas facilmente curável. Já um problema adaptativo exige não só a solução da situação, mas uma completa mudança de hábitos, e é esse o tipo de problema que as pessoas querem evitar.
Heifetz lembrou-se da sua rotina como médico, quando operava um paciente com problemas cardíacos, mas depois tinha que conversar com a pessoa e pedir para que ela mude também os seus hábitos. E esse é um processo complicado tanto para indivíduos quanto para empresas porque uma mudança de hábitos muitas vezes implica em mudar tradições antigas, em parar de comer uma comida que lembra de casa ou de mudar estratégias que estão lá desde a fundação da empresa. “A parte técnica era só parte do problema, os hábitos são a outra metade, e essa é a parte adaptativa do processo”, observa Heifetz.
Mas é muito mais fácil lidar com os problemas técnicos que com os adaptativos. Nas palavras de Heifetz, “é mais fácil consertar o coração do que mudar o espírito humano”. Seres humanos são naturalmente resistentes às mudanças, e empresas são mais resistentes ainda. Foram montados complicados sistemas burocráticos para garantir que as coisas não mudem, mas o mundo está em transformação, e quem não se adaptar a ele não sobreviverá ao mercado.
Por isso, empresas modernas que estão ignorando os problemas adaptativos enquanto freneticamente lidam com os sintomas técnicos do problema estão agindo como pessoas em um barco cheio de buracos. Ao invés de investigar o que está danificando a navegação, elas estão tapando os vazamentos com as mãos. Essas empresas estão fadadas a naufragar.
Como vencer a resistência à mudança
Não é fácil convencer uma empresa a mudar, mas esse é o papel de um líder. Num momento de transição é vital que haja alguém pronto a incentivar que o trabalho adaptativo seja feito. Isso significa não exatamente resolver os problemas, mas garantir que as pessoas na empresa tenham a capacidade de lidar com um novo mercado.
Heifetz também destacou que o líder tem o papel de lembrar a empresa de que, mesmo que muitas coisas vão mudar, muitas delas ainda continuarão as mesmas. A própria mudança ocorre para garantir que algumas coisas sejam mantidas. Ele propõe que o líder faça as seguintes perguntas a si mesmo e ao seu time:
1. O que na cultura pode ser preservado, protegido e honrado?
2. O que tem que ser descartado?
3. Que inovações permitirão que nós teremos o melhor de nossas identidades no futuro?
O papel da liderança é, acima de tudo, garantir que a empresa atravesse com sucesso um momento de transição. Por isso o líder deve ser o principal agente na solução de um problema adaptativo.