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O ser empreendedor na prática

Ao ler revistas e sites direcionados a empreendedores, observa-se um fenômeno curioso: inúmeros casos de jovens com idade entre 25 e 30 anos faturam milhões em menos de 5 anos, com negócios muito criativos. Por exemplo, uma seção intitulada 'abaixo dos 40' divulga histórias de empreendedores 'abaixo dos 30'!

Reportagens como essas acompanham a tendência detectada pela pesquisa 'Empreendedorismo no Brasil 2012', da Global Entrepreneurship Monitor (GEM), que indica que os empresários iniciais brasileiros têm idades entre 25 e 34 anos e entre 35 e 44 anos, o que corresponde a 19,2% e 18,7%, respectivamente. Mas, basta observar as porcentagens para detectar quantos empreendedores de 35 a 44 anos estão sendo desconsiderados nessas publicações.
 
No entanto, não é apenas a faixa etária focada nas matérias que chama a atenção. Há uma forte ênfase no faturamento, quase sempre divulgado logo no início do texto ou em destaque nas reportagens. Claro que o faturamento é um indicador de sucesso do negócio, mas, pouco se tematizam os custos para manter o negócio, a margem de lucro, os investimentos e os desafios para manter o faturamento no mesmo patamar ou aumentá-lo.

Além da jovialidade e do alto faturamento, as publicações costumam destacar, fortemente, o curto período para se chegar ao 'auge' ou à consolidação do negócio. Esses três ingredientes podem compor uma ótima receita para instigar muitos leitores a empreender, algo que vem crescendo muito entre os brasileiros e é extremamente benéfico para a economia. Mas, esses mesmos ingredientes podem fazer a receita desandar caso o leitor se depare com a seguinte situação: tenho mais de 30 anos, empreendo há anos e ainda não faturo milhões. Sentimentos como ansiedade ou perguntas como 'o que eu estou fazendo de errado?' podem surgir e incomodá-lo.

Há empreendedores que faturam 100 mil reais no ano e estão satisfeitíssimos com o resultado; por outro lado, há os que estão no terceiro empreendimento e só este tem dado lucro de fato (os demais deram prejuízos); há os que acabaram de abrir um negócio e estão faturando milhões, mesmo que tenham investido um alto capital para abrir a empresa. As situações são as mais diversas, mas é importante ponderar esses dois polos para que possamos enxergar a realidade do empreendedorismo no Brasil sem os óculos ora cor de rosa, como os de hoje, ora escuros, como os de tempo atrás.

Para apreender melhor essa realidade, tenho conversado e entrevistado empreendedores com idades entre 30 e 45 anos de diferentes segmentos de negócios, com o intuito de ouvir suas histórias, sentimentos e impressões sobre empreender no Brasil. Como empreendedora e pesquisadora, destaco alguns aspectos:

O que chama a atenção é a busca por inovação na gestão, para romper com o tradicionalismo do ambiente corporativo e minimizar conflitos e problemas vividos por eles, em empresas em que atuaram como empregados. Ao mesmo tempo, essa inovação pode gerar resistência em alguns clientes que podem não avaliar positivamente desde as roupas informais, à ausência de um escritório próprio da empresa.

Apesar desses aspectos, é indiscutível o sentimento de autorrealização. Todos se sentem realizados por fazer o que amam, por seguir seus valores ou por poder trabalhar com autonomia. O que é fundamental ressaltar, com base no que os empreendedores têm a dizer de suas experiências diárias nessa 'aventura', é que:

1. Ser um empreendedor bem-sucedido não é medido pela idade, faturamento ou tempo de maturação do negócio;

2. Empreender é uma tarefa prazerosa e intensa, mas extremamente desafiadora;

3. Romantizar o empreendedor é não evidenciar o esforço diário dessa atividade na prática.

Vivian Rio Stella é fundadora da VRS Cursos e pesquisadora do grupo Atelier Linguagem e Trabalho, da PUC-SP.

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