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Você sabe o que quer dizer mottainai? A palavra vem do idioma japonês e está intimamente ligada ao conceito de sustentabilidade e à necessidade de uma nova cultura organizacional. Tiemi Yamashita, especialista em sustentabilidade da Teia Projetos Socioambientais, contou durante o II Fórum da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-Brasil) de Sustentabilidade, em São Paulo, que desde a infância o termo estava presente em sua vida.
“Eu ouvia essa palavra do meu avô, mas não de uma maneira doce. Ele falava de forma dura, geralmente quando eu estava fazendo alguma coisa que ele não gostava, como deixar comida no prato, estragar roupas novas, desperdiçar as folhas do caderno, rasgar um livro. Ele ficava muito bravo”, lembra a neta de imigrantes japoneses. Tieme explica que, de forma geral, “mottainai” quer dizer “que desperdício! ”.
Aos 19 anos, Tiemi teve a oportunidade de tentar a vida no Japão e começou a trabalhar em uma fábrica, onde atuou como operária por três anos. Durante esse período, ela conta que teve alguns aprendizados para a vida toda. Um deles foi conhecer na prática, “sangrando nas linhas de produção”, o mindset japonês de produtividade máxima e desperdício zero de recursos.
Depois, em 1995, a especialista receberia mais um aprendizado. Neste ano, a cidade de Kobe foi devastada por um terremoto e Tiemi perdeu tudo que tinha. Roupas, objetos, amigos, mas não perdeu o bem mais valioso: sua vida. “Naquele momento, a palavra mottainai veio novamente para mim e eu descobri o seu verdadeiro significado, que ela vai muito além de desperdício”, conta. Segundo a especialista em sustentabilidade, “mottai” quer dizer “digno” e “nai” funciona como uma negação. Juntos, os termos expressam a falta de dignidade de alguém em usar os recursos disponíveis.
CRIANDO UMA MENTALIDADE MAIS SUSTENTÁVEL
O Japão é um país muito pequeno, com uma enorme escassez de matéria-prima e recursos naturais, mas mesmo assim conseguiu se tornar uma nação próspera, pois aproveita tudo que tem e não provoca desperdícios. “O Brasil é um país enorme e riquíssimo, mas que desperdiça muito. Por isso, ele também é um país pobre”, opina Tiemi.
Segundo a especialista, um primeiro passo em direção ao progresso nos negócios e práticas mais sustentáveis é que as lideranças e colaboradores passam a aplicar os princípios do mottainai dentro e fora do escritório.
Para isso, é preciso primeiro valorizar os recursos disponíveis e entender a importância deles para bons resultados financeiros e também para o bem-estar da comunidade. Depois, reconhecer a sua cadeia produtiva, entender de onde veio e pelo o que ele passou até chegar às lojas, às casas ou às linhas de produção. Por último, é essencial expressar o sentimento de gratidão por ter acesso a esses recursos. Para isso, é preciso aproveitar ao máximo o que temos e eliminar os desperdícios. “Quando olhamos por essa perspectiva, passamos a fazer escolhas mais sustentáveis”, conta Tiemi.
A especialista explica que essas práticas valem tanto para os recursos tangíveis (ambiental, estrutural, financeiro), quanto para os intangíveis (cultura, conhecimento, experiência, educação, confiança), que também são amplamente desperdiçados. “As empresas não conseguem contabilizar o desperdício de recursos intangíveis. As pessoas acumulam anos de experiência e conhecimento dentro das companhias. Isso tem muito valor e é um recurso infinito. E só a partir disso será possível encontrar soluções para reduzir o desperdício do que é finito e está escasso”, comenta.
Por isso, para Tiemi, as pessoas são a base da construção de uma cultura organizacional mais sustentável e o RH tem papel fundamental nesse processo. “O maior desafio da área de recursos humanos é explicar para as pessoas o que é sustentabilidade. No entanto, depois de fazer isso de forma prática e objetiva, elas passam a praticar a sustentabilidade e começam a enxergar o desperdício, modificando automaticamente alguns hábitos”, finaliza.