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Desculpas para não planejar


 
       'Em determinadas culturas o planejamento é um processo incorporado a qualquer atividade pessoal ou empresarial. Em outras culturas, como a brasileira, o improviso é que historicamente vem determinando histórias de sucesso de uma forma geral. Talvez por isso, haja uma certa aversão no Brasil com respeito à importância de se fazer planejamento. Algumas das desculpas mais comuns são:
 

1 - 'Não adianta planejar, tudo vai mudar mesmo'. Os postulantes deste argumento partem do princípio que o ambiente é mutável e que qualquer iniciativa de planejar perde efeito com as variáveis indesejadas ou inesperadas. De fato, no Brasil, o ambiente é muito instável e mutável, em todos os aspectos. A tendência a encontrar soluções paliativas, dada a incompetência das pessoas ou à pressão do tempo, acaba levando aos remendos e suturas que certamente exigirão novos remendos e suturas com o tempo, havendo pouco estimulo às soluções definitivas e bem estruturadas. Como consequência, se o empresário gasta tempo para fazer um bom planejamento com base em informações e pressupostos existentes, logo seu planejamento começa a fazer água com as inevitáveis mudanças que acontecem nestas informações e pressupostos existentes.

No entanto, já é sabido que, pior do que não planejar, é deixar-se levar por estas circunstâncias incontroláveis. A pessoa que não planeja não tem controle sobre a situação é obrigada a tomar uma decisão de curto prazo quando pouco tempo há para que algo seja feito, ou pior, é preciso tomar uma decisão depois que já aconteceu algo. Assim, planejar e mudar o plano ainda é melhor do que não ter nenhum plano. O que o empresário deve fazer é construir um plano que não seja muito detalhado e tenha flexibilidade o suficiente para acomodar as circunstâncias mutáveis que vão acontecer no caminho.

2 - 'Não é preciso planejar, já sei de tudo'. Empresários que já atuam há muitos anos em um setor, que dominam tudo o que acontece na área, que possuem conhecimentos e informações sobre o seu negócio e seu mercado, tendem a considerar que não há necessidade de fazer planejamento. Eles partem do princípio que o planejamento serve para reduzir a incerteza e, se não há incerteza por causa do seu amplo conhecimento, não haveria necessidade de dedicar tempo e esforço para um planejamento detalhado.

A arrogância pode ser o principal defeito de líderes que não gostam de planejar por este motivo. Ninguém sabe de tudo. Hoje em dia, principalmente, as pessoas não conseguem dominar todos os aspectos relacionados com o futuro. Portanto o risco de algo não conhecido ou não esperado acontecer é muito alto. O empresário só pode se dar ao luxo de não planejar se ele, mais do que conhecimento, tiver também controle sobre todas as variáveis que impactam direta ou indiretamente o seu negócio, incluindo aí medidas do governo, taxas e impostos, ações dos fornecedores, comportamento do mercado, medidas tomadas pelos concorrentes e outros fatores do ambiente, o que, obviamente, é impossível.

3 - 'Não dá para esperar o plano ficar pronto'. De fato, com o dinamismo definindo o ritmo das tarefas, é virtualmente impossível segurar a ação até que o plano fique totalmente pronto. Por excesso de zelo, muitos futuros empreendedores perdem a janela da oportunidade por ficarem travados no plano, revendo e ajustando minuciosamente os dados para que o plano fique perfeito e só vão dar o primeiro passo depois que o plano estiver perfeito, ou seja, nunca ou tarde demais!

A verdade é que uma coisa não elimina a outra. A urgência não pode tirar a importância e eficácia dos planos. É preciso planejar mesmo assim e continuar a ação e o planejamento de forma conjunta até o fim. Não se inicia a execução do plano depois que ele termina, pelo contrário, bons planos precisam dar uma indicação das primeiras decisões apenas e, na medida em que o negócio vai se desenrolando a elaboração do plano segue em paralelo. Na medida em que a incerteza vai diminuindo com a execução do plano, mais dados concretos ajudam a construir o plano, que por sua vez, vai antecipando horizontes cada vez mais amplos e ajudando efetivamente a enriquecer o processo de tomada de decisão.

Planejar é como caminhar em uma estrada em meio ao nevoeiro. Antes de dar o primeiro passo não se consegue enxergar quase nada à frente, mas na medida em que se anda, o nevoeiro se dissipa e consegue-se enxergar mais à frente. Parte do nosso futuro é pré-determinado e só precisamos tentar antecipar ao que vai acontecer, mas parte do nosso futuro é construído a partir de nossas próprias ações, e para isso, não temos que antecipar o que vai acontecer, mas fazer acontecer o que nós antecipamos.

 

Marcos Hashimoto é Coordenador e Professor do Centro de Criatividade e Empreendedorismo da FAAP, Consultor e Palestrante, doutor em Administração de Empresas pela EAESP/FGV (Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas), autor do livro Lições de Empreendedorismo e do software SP Plan de planos de negócios. Seu site pessoal é www.marcoshashimoto.com

 

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