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“Conformidade com a papelada, mas não com o espírito”. Essa foi a definição para box ticking dada por Simon Wong no 17º Congresso de Governança Corporativa da IBGC, realizado em São Paulo. Trata-se de uma prática infelizmente muito comum no mercado mundial: o seguimento das leis de maneira preguiçosa e incompleta.Essa situação é resultado de uma cultura empresarial que encoraja uma abordagem mecânica a da governança corporativa. Mas esse não é o melhor jeito de proceder. Afinal, governança se trata de pessoas, e a subjetividade de cada um também deve ser levada em consideração.
O conselho é um bom exemplo de como o box ticking é um problema da governança atual. Simon, que atua como conselheiro de grandes empresas há 7 anos, exemplificou como a presença de conselheiros independentes parece fazer mágica dentro deles. O conceito do cargo de acordo com a BM&BOVESPA é o de alguém que opera independentemente no conselho, auxiliando no desempenho da governança. A lei diz que conselhos devem ter ao menos 20% de conselheiros independentes.
Mas Simon defende que não basta só incluir independentes num conselho para que ele funcione: “Se você enche uma sala de conselheiros independentes, parece que como mágica as coisas vão se resolver e operar bem melhor. Mas todo mundo sabe que não é bem assim. Frequentemente ainda tem muito a ser feito. As pessoas não pensam o suficiente sobre quem está no conselho. Será que eles têm os valores certos? As motivações corretas para participar do conselho? Eles têm a coragem de desafiar quando necessário?”, questionou.
A resposta, em grande parte dos conselhos, é que não. Conselheiros independentes completamente alheios aos objetivos das empresas com as quais colaboram formam aproximadamente 25% do total, de acordo com uma pesquisa realizada no Reino Unido. E esse não é um caso único dos conselhos. As várias discussões sobre o pagamento de CEOs, e se ele deve aumentar para garantir um desempenho seguem a mesma lógica. Elas tiram o fator da individualidade das pessoas e entendem o desempenho de funcionários como o de máquinas de doces: coloque mais moedas e mais balas vão cair. E a governança corporativa não é tão simples assim.
É muito fácil esquecer o contexto individual, e tratar pessoas como se fossem máquinas. O problema é que essa estratégia é falha. Se o fator humano não fosse crucial para o funcionamento de empresas, a própria governança corporativa seria necessária. Afinal, se tudo o que é necessário é seguir as leis e aplicar o dinheiro nos lugares certos, para que serve um líder? A resposta é que deixar a sua empresa operando corretamente no papel não significa que ela está indo bem na realidade, e é vital que as duas coisas sejam coordenadas.
“A abordagem do box ticking significa que você não consegue os benefícios esperados por adaptar a sua governança corporativa às melhores práticas”, afirmou Simon. Um aspecto das leis que o box ticking não entende é que elas não são impostas a esmo. Elas são pensadas para maximizar os resultados da sua empresa. E não têm como fiscalizar se o seguimento das leis é real ou se só está no papel. Cabe ao administrador ter a vontade e a perseverança necessária para implantar essas leis na prática.
Por isso, se você não entende a razão para uma lei a ponto de ela soar como uma imposição, procure entender a razão dela. Não deixe que algo que deveria melhorar a sua prática de governança se torne mais um nível de burocracia. Só assim é possível aproveitar plenamente os benefícios de conselheiros independentes, da diversidade e de tantos outros aspectos da governança corporativa afetados pelo box ticking.
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